Pioneiros
O Rev. Albert Lehenbauer nasceu em 13 de fevereiro de 1891 em West Ely, Missouri, EUA. Formou-se em teologia nos Estados Unidos da América do Norte e veio ao Brasil como missionário em 2 de fevereiro de 1915, com 15 anos de idade. Casou-se aqui no Brasil com Helena Priebe Lehenbauer passando a residir e a exercer a sua atividade missionária na Linha 15 de Novembro (Santa Rosa), RS, e nas colônias de Guarani e Erechim. Desenvolveu ai um trabalho fecundo, iniciando novas congregações e pontos missionários.
No livro, Soja 80 Anos de Produção, nesta pesquisa editada em comemoração aos 80 anos de produção de soja em Santa Rosa, é descrita da seguinte forma a sua atuação: Na colônia Guarani organizou a sua paróquia de forma modelar. Ativo e trabalhador, ele mesmo cuidou da instrução de professores leigos, organizou a comunidade e criou várias escolas, dentre elas, a Escola Evangélica São João, 1917 em Santa Rosa. (LUCANO, 2004, p. 38)
No mesmo livro também é descrita a preocupação que o acompanhava na sua lida missionária:
O Pastor Lehenbauer estava empenhado na propagação do Evangelho na nova região de colonização , mas, também se preocupava com as condições econômicas dos que aqui chegavam e que haviam adquirido um pedaço de terra para trabalhar pois as dificuldades encontradas eram imensas. Era uma pessoa culta e solidária com as necessidades espirituais e materiais dos fiéis. Na época fundou uma pequena cooperativa para os agricultores.” (LUCANO, 2004, p. 38)
Este homem é descrito, na pesquisa festiva, como um personagem imprescindível para se poder compreender e entender o processo que tornou Santa Rosa o berço nacional da soja, cuja cultura gera divisas altamente significativas para a economia brasileira. E tudo isso porque um simples missionário, que veio com a missão de evangelizar, viu na necessidade do povo um motivo a mais para explicar o seu chamado ao ministério.
O Rev. August Gedrat nasceu no dia 1o. de março de 1902 na antiga Prússia, num lugar conhecido como Laugallen, pertencente à região de Heydekruck. Com 26 anos foi a Berlim para completar seus estudos, e, em 1932, formou-se em teologia. Casou-se, ainda na Alemanha, no mesmo ano com Ana Marie Sofie Heine. E no dia 31 de julho de 1932 veio ao Brasil por ter recebido um chamado da Comissão Missionária da igreja brasileira para aqui desenvolver um trabalho evangelístico.
O Rev. Gedrat foi enviado à localidade de Moreira, a descrição do local de trabalho e o próprio trabalho encontrados são descritos por sua neta Lílian Dreher, no livro “Um Lugar Tão Lindo”: Naquele tempo Moreira pertencia ao município de Taquara, hoje Três Coroas. Foi instalado como pastor da paróquia na Comunidade Evangélica Luterana “Santíssima Trindade” no dia 7 de agosto de 1932. A paróquia era composta de 17 pontos de pregação e dentre as responsabilidades pastorais estava o atendimento à escola como professor, uma vez que era a pessoa com mais estudo. As aulas, nos primeiros tempos daquela época, eram ministradas em alemão. O pastor, portanto, tinha muito o que fazer. (DREHER, 1996, p. 11)
Logo, já no seu primeiro ano de trabalho, ficou manifesto o coração desse pastor e missionário que além de evangelizar a Palavra e ensinar a letra, praticava o que ensinava:
O pastor Gedrat, voltando de uma de suas viagens pela paróquia, trouxe junto consigo uma menina chamada Alzira. A família, de Batingueira,era bastante pobre e a menina queria estudar. O pastor Gedrat concordou em abriga-la em sua casa para permitir que frequentasse a escola paroquial concomitantemente ao ensino confirmatório da comunidade. Quase em seguida veio a sua irmã Nelda Majeski. (DREHER, 1996, p.12). As notícias de pessoas com solidariedade correm rápido. Em 1934, quando nasceu o primeiro filho do casal, a casa já abrigava oito crianças. E o pastor que veio ao Brasil só falando alemão, devido a necessidade constante de comunicação com as crianças em casa e atividades na escola, aprendeu rapidamente o português.
E o empenho do pastor solidário foi se concretizando em ajuda cada vez maior. Em 1938 foi construída a Casa da Juventude, que serviu como escola paroquial no térreo e abrigo para as crianças no sótão, pois o espaço da casa pastoral era insuficiente. Segundo relatos do pastor Gedrat, até o ano de 1943, 86 crianças já haviam recebido auxílio na casa pastoral e o número crescia. Resolveram, então criar a “Sociedade Amigo dos Órfãos” que tinha, como primeiro desafio, encontrar uma maneira de alojar as crianças em um local maior e mais apropriado, desocupando, assim, as propriedades da congregação local e estas pudessem novamente ser usadas para atender as atividades congregacionais. Em instalações próprias as crianças poderiam ser melhor atendidas e essas também poderiam, como era seu desejo, participar nas atividades congregacionais.
Em 1944 a congregação local cedeu o seu nome e registro para que fossem comprados, aproximadamente, 48 hectares de terra, que serviriam então para a construção de acomodações melhores para as crianças. Imediatamente, inicou-se a construção, em regime de mutirão, uma casa de madeira. A casa tinha quatro grandes quartos coletivos, que eram insuficientes para abrigar todas as necessidades e assim as crianças foram divididas: as crianças menores, que necessitavam de atendimento mais individualizado, ficaram residindo com a família pastoral e os maiores ficaram na casa nova sob os cuidados de pessoas voluntárias da comunidade.
As dificuldades eram imensas para a manutenção de toda essa atividade e, por isso, para possibilitar melhores condições de busca de recursos, numa reunião extraordinária do Comitê Amigos dos Órfãos a 10 de dezembro de 1946 foi fundada a Associação Evangélica Luterana de Beneficência (AELB). E com isto foi criada a entidade jurídica necessária para ser a mantenedora legal do Instituto Santíssima Trindade – Lar de crianças e idosos, como previsto nos seus estatutos.
Em 1948 foi inaugurada a segunda casa das crianças, maior, com mais conforto e mais próxima da civilização com capacidade para 58 crianças. E em 1959 foi inaugurada a terceira casa das crianças do Instituto Santíssima Trindade. Apesar de não estar completa, havia muitos detalhes a concluir, nela residiam 126 crianças. A antiga casa de madeira serviu para, então, abrigar os idosos que havia em número de 33. A história do Instituto Santíssima Trindade é uma história inacabada, poderia, até se dizer que está no início, posto que os atuais responsáveis se espelham na fé, coragem, e coração desse que foi o seu fundador.
(Extraído do TCC ANÁLISE PROPOSITIVA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NA IELB de Mario Lehenbauer)